terça-feira, 24 de novembro de 2015

Holanda, Alemanha, Austria, Hungria e República Tcheca





Há muito tínhamos vontade de fazer uma viagem de carro pela Europa, passando por diversos países. Já havíamos feito um giro de carro pela Itália, um amplo roteiro de trem pela Península Ibérica e algumas viagens mais localizadas, a Londres e a Paris.
Agora, gostaríamos de explorar vários países mais ao leste, com a liberdade que só um carro pode fornecer.
Nasceu daí a ideia de sair de Amsterdan e adentrar no continente passando pela Alemanha, Hungria, Rep. Tcheca, Áustria, Eslováquia e Polônia.






Percalços logísticos
Iniciamos a pesquisar sobre a viagem e descobrimos alguns obstáculos curiosos. Primeiramente, um carro alugado na Holanda pode entrar na Alemanha, mas não na Hungria. Já um carro alugado na Alemanha pode andar por todos os países. No entanto, tentar alugar o carro na Alemanha deixaria a viagem com muitas idas e vindas, o que sabemos não ser bom.
Optamos por locar dois carros, um seria retirado em Amsterdan e devolvido em Wurzburg, o outro, retirado em Wurzburg e devolvido em Berlin.
Esse modelo implicava um custo adicional de 350 euros, mas nos pareceu valer a pena, para evitar uma viagem mista, majoritariamente de carro, mas com pelo menos um deslocamento de trem.
Tivemos uma surpresa desagradável com o custo do seguro, mas isso ocorreu em um momento no qual já não era possível mudar mais nada.


O Roteiro

15/11 Sab - Deslocamento aéreo a Amsterdan
Viajamos de TAP, em um voo Brasília, Lisboa, Amsterdan. De todas as opções possíveis, essa nos pareceu a melhor, já que o voo da TAP sai de Brasília.

16/11 Dom - Chegada a Amsterdan
Chegamos a Amsterdan por volta das 11h da manhã. No aeroporto, tomamos um táxi num carro elétrico ou, mais provavelmente, híbrido, que mais parecia uma aeronave: com acelerações rápidas e muito silencioso.
Usamos o programa de fidelidade Accor Le Club para pagar as diárias em Amsterdan.  Ficamos em um Ibis próximo a estação central de trens, em um lugar com muitas bicicletas acorrentadas.   Aparentemente, as pessoas em Amsterdan conjugam trem e bicicleta como meio de transporte.
Nesse dia caía uma chuva fraca e aproveitamos o tempo para caminhar pela cidade. Fomos até a praça Dam, caminhamos até o Anne Frank Haus e depois voltamos ao hotel.
À noite caminhamos a esmo e acabamos encontrando o Red Light District, bairro onde as prostitutas se exibem em pequenas vitrines diante da rua movimentada. O lugar parece razoavelmente seguro e é povoado por turistas. Turistas, prostitutas, igrejas antigas... tudo junto e misturado numa boa.  Por vezes, ouvimos alguns clientes pechinchando com as meninas. Um deles estava descolando um programa por 40 euros. Não sabemos se os preços são tabelados.
Jantamos uns Tapas no Joselito, um restaurante espanhol.





17/11 Seg - Amsterdan
Acordamos às 7h e ainda era noite. Só foi amanhecer lá pelas 8h, mas o tempo estava bom.
Tomamos café em uma confeitaria e fomos para o Anne Frank Haus, que tem filas mais administráveis na primeira hora da manhã. Esse é um passeio que, para quem não leu o livro, pode parecer uma simples visitação a uma casa sem maiores atrativos, em frente a um canal. Mas, quem leu o Diário, tem uma quase automática conexão afetiva com o lugar. A administração do museu mantém as janelas isoladas com cortinas pretas, como a casa era mantida quando era um esconderijo, o que transmite a sensação de clausura das pessoas que viviam ali.
Dali, fomos caminhando até o Vondelpark, aproveitando o tempo bom para fotografar a cidade. O Vondelpark é uma gigantesca área verde, que estava muito bela com os tons outonais das copas das árvores, algumas pessoas correndo, outras passeando com crianças ou cachorros e muitas, muitas pedalando. A bicicleta é um meio de transporte real e cotidiano e Amsterdan.
Comemos um sanduíche e, à tarde, fomos ao museu dedicado a Van Gogh. A área abriga uma coleção oriunda da família e é muito representativa.
Nesse mesmo dia, andamos pela primeira vez no Tram, uma espécie de bonde modernoso, extremamente prático para deslocamentos dentro da cidade.










18/11 Ter - Amsterdan
Esse dia iniciou muito frio e com previsão de geada, que não sabemos se ocorreu efetivamente ou não. Pela manhã fomos ao bairro judeu, a um mercado de pulgas próximo e, depois, ao museu Casa de Rembrandt. Não se trata de um museu propriamente dito, mas sim da casa onde Rembrandt viveu e produziu por muitos anos, que foi redecorada conforme os relatos da época.
Na volta, passamos pela Rembrantplein, uma praça bem agitada, com bares e restaurantes. Comemos Lamb Stew em um pub irlandês.
À tarde, fomos ao Heineken Experiencie, que consiste em uma visitação a uma cervejaria histórica da marca. Há um parte legal na vista, que mostra a história da cervejaria e o seu processo produtivo. A parte chata é que depois de um ponto o passeio vira uma espécie de incursão multimídia cheia de joguinhos e com venda de souvenirs diversos. Tudo acaba com um passeio de barco pelos canais de Amsterdan, o que foi legal.
À noite, jantamos no Abssynia, um restaurante africano que serve umas cervejas à base de frutas tropicais como banana, manga, maracujá, etc. Bebi uma de banana, que era interessante, mas parecia ser mais um suco de frutas que uma cerveja. Acabei pedindo um cerveja de verdade, escura e de fabricação etíope. Os pratos são servidos sobre uma panqueca gigante, feita à base de um cereal africano, e devem ser comidos com as mãos, usando-se pedaços da panqueca como suporte.

       




19/11 Qua - Amsterdan
Acordamos um pouco mais tarde e tomamos um bom café da manhã em uma confeitaria francesa. Tomamos o Tram e fomos ao Reijksmuseum, que é o mais importante museu de arte da Holanda. A coleção é bastante representativa, sobretudo com relação a artistas como Rembrand e Vermeer. Há uma pequena mas interessante seção sobre impressionistas (há um Monet lindo) e pós-impressionistas (alguns Van Goghs).
A coleção de pinturas flamengas do século XVIII é bastante bacana, com muita coisa legal, ainda que um tanto desconhecida para nós.
Jantamos no Moeders (Mães), um restaurante com a proposta de apresentar uma comida caseira holandesa (receitas das mães). Os pratos eram simples, mas tudo muito gostoso. A cozinha holandesa não é uma coisa muito consolidada e, em Amsterdan, você pode encontrar com facilidade restaurantes baseados na culinária de qualquer lugar do mundo - chinesa, argentina, irlandesa... -, mas muito pouco na culinária local.  O curioso desse local é que há uma área para deixar fotos... das mães!  Se você tiver em mãos uma foto da sua, pode deixar lá.

20/11 Qui - Amsterdan a Delft - 62 km
Ainda no Brasil, nós fizemos uma reserva na Hertz para um carro a ser retirado no aeroporto de Schipol. O deslocamento até o aeroporto foi simples, bastando tomar um trem a partir da estação Central, que fica quase ao lado do Ibis.
Chegando no aeroporto, tivemos uma surpresa desagradável. Embora a locação, contratada no Brasil, estivesse com um preço muito bom, o valor do seguro, que só pode ser contratado localmente, era bastante alto.
Pensamos sobre o assunto, mas, como não gostaríamos de abrir mão do seguro, acabamos nos rendendo às condições. O pessoal da Hertz fez um super up grade e nos deu um BMW, o que é impressionante, visto que nós havíamos reservado um carro básico. Não é nada mau dirigir um BMW, mas a verdade é que nós não ligamos muito para isso. O carro era extremamente tecnológico, cheio de botões e automatizações com as quais eu definitivamente não estou acostumado, o que gerou um certo stress inicial, mas que se diluiu com o tempo.
Saímos do aeroporto com o GPS roteado para uma região de moinhos, nas cercanias de Amsterdan. Encontramos os tais moinhos, mas o passeio acabou sendo um pouco frustrante, visto que não conseguimos achar pontos com um visual de fato interessante.

A partir dalí rumamos para Delft, que é uma cidade pequena, bonita e cara. Não há lugares para estacionar na cidade. Você não consegue sequer parar o carro na frente de um hotel para pedir informações. Além disso, muitas ruas são abertas apenas para moradores. Depois de algumas dificuldades, descobrimos um estacionamento pago na entrada da cidade e deixamos o carro lá e fomos arrastando as malas até um hotel ali perto.
A cidade tem um visual encantador, com casinhas de centenas de anos e um ar ao mesmo tempo interiorano e cosmopolita. Há um mercado de bugigangas diversas que funciona na praça central durante a tarde. Visitamos as duas igrejas e almoçamos por ali. Estava muito frio e optamos por fazer um lanche no hotel à noite. Para tal, nos armamos com uma garrafa de pinot noir, um pão artesanal comprado de um simpática holandesa no mercado, uns docinhos comprados na chocolatier e uns queijos que havíamos trazido de Amsterdan.









21/11 Sex - Delft a Wurzburg - 574 km
Saímos cedo de Delft, visto que o dia prometia ter muita estrada.
Percorremos rapidamente o trecho holandês e logo a seguir entramos na Alemanha, em suas autobans com velocidade ilimitada. Tomei uma buzinada de um alemão por estar andando muito devagar. Eu estava a 120.

Chegamos à Wurzburg no final da tarde, ou seja, lá pelas 16h. Precisamos então fazer a troca do carro, visto que um carro locado na Holanda não poderia sair para República Tcheca ou para a Hungria. Tivemos o mesmo problema com o seguro, mas agora ampliado, visto que o número de diárias era maior. Avaliamos a situação, fizemos contas, ponderados e, por fim, ligamos o foda-se e seguimos o nosso caminho.
À noite, verificamos que muitos restaurantes têm menu em inglês. Escolhi comer um bratswurth, aquele típico salsichão alemão, acompanhado de um vinho branco fantástico. Sandra optou por um ragu com batatas, também muito bom.
Os vinhos alemães são um espetáculo à parte. Eles são pouco conhecidos quando comparados aos seus rivais franceses e italianos, mas são bem característicos, com um sabor levemente adocicado e maciez extrema.











22/11 Sab - Rota romântica - de Wurzburg a Rothenburg - 64 km
Pela manhã passeamos em Wurzburg, embalado por uma névoa que encobria parcialmente a cidade. O lugar é muito bonito, especialmente na beira do rio, que tem uma vista legal da fortaleza na outra margem. Imaginávamos que Wurzburg fosse uma cidade pequena, mas estávamos enganado. Era bem maior do que imaginávamos.
Visitamos o Residenz, um gigantesco palácio, com extensos jardim e um interior opressivamente luxuoso.
Depois pegamos a estrada, fazendo paradas rápidas na cidadezinhas da Rota Romântica: Tauberbischofheim, Bad Mergentheim, Weikersheim e, por fim, Rothenburg ob der Tauber, nosso ponto de pernoite. Para fazer a rota romântica é recomendável, além do GPS, um mapa em papel, ou ao menos saber que estradas tomar, pois o GPS tenta o tempo inteiro nos levar para as autobans, mas o charme da Rota Romântica é justamente pegar as estradinhas que passam pelos vilarejos e parar nos mais interessantes.

Em Rothenburg ob der Tauber achamos um hotelzinho bacana: o Reichsküchenmeister, que também tem um restaurante altamente recomendável. Dessa vez, Sandra comeu o bratswurth e eu comi um ombro de porco. O vinho tinto recomendado pela garçonete não decepcionou.
Perambulamos tarde da noite pelas ruas desertas de Rothenburg. A névoa dava ao lugar um aspecto assombrado. De vez em quando uma gargalhada ecoava ao longe. Espero que as fotos tenham conseguido transmitir essa atmosfera.






23/11 Dom - Rota romântica - de Rothenburg a Augsburg - 160 km
Acordamos relativamente cedo e encaramos uma caminhada de umas duas horas por Rothenburg. O dia amanheceu com um sol tímido e uma certa névoa. Os campos estavam brancos pela geada da madrugada, o que deu um ar meio fantasmagórico às fotos. O caminho percorrido era sugerido no mapa da cidade fornecido no hotel e contemplava os principais pontos turísticos.
A cidade tem uma muralha bem preservada e, ao final, um jardim que, pela posição elevada, fornece uma boa vista das imediações.



A seguir, tomamos a estrada na direção das outras cidades da rota.
Em Schillingfürst, procuramos um castelo (schloss) sem sucesso e quase congelamos. Em Feuchtwangen, tiramos algumas fotos e comemos um torta de cerejas e nozes fantástica. Em Nördlingen, tiramos fotos a andamos primeiro pela cidade, que tem belos casarões, e depois por sobre as muralhas. O neblina foi aumentando ao longo do dia e, a partir das duas da tarde se tornou uma grossa fumaça branca que cobria tudo. Ainda tiramos algumas fotos do castelo de Harburg e caminhamos por Donauwörth, a última cidade da rota romântica do norte. Dali rodamos mais uns 50 km até Augsburg, a primeira cidade da rota romântica do sul.
A neblina acelerou o fim da luminosidade do dia e 5 da tarde já era noite.
Depois de encontrar um hotel, fomos ao König von Flandern, que serve cervejas de fabricação própria e pratos regionais. Tudo muito gostoso e barato.





24/11 Seg - Rota romântica - de Augsburg a Füssen - 109 km
Aproveitamos o dia de sol para um passeio pelas ruas de Augsburg, que é maior que a maior parte das cidades das rota romântica. As atração ficam um pouco mais dispersas, o que rendeu uma boa caminhada.
A seguir, pegamos o carro e tomamos a estrada na direção sul. Paramos em Landsberg am Lech, que tem um visual impressionante, com o rio cruzando a cidade de forma bastante cênica. Tiramos umas fotos e seguimos adiante. Em Schongau, entramos na cidade murada para almoçar algo rápido. Na pequenina Rottenbuch, fizemos uma parada um pouco maior. A cidade, embora muito pequena, é um tanto inusitada por possuir um cemitério na praça central. Esse aspecto, alinhado a um desenho convidativo das nuvens no céu, proporcionou fotos legais.

Seguimos adiante até chegarmos a Hohenschwangau, que abriga dois castelos interessantes. Visitamos o Schloss Neuschwanstein, que inspirou o castelo da Cinderela no desenho animado da Disney. Na mesma área fica também o Schloss Hohesschwangau, do qual apenas tiramos algumas fotos.
Após várias fotos do fim de tarde com castelos ao fundo, descemos a montanha onde o castelo fica empoleirado já sem a luz do dia e rumamos para Füssen, que nos pareceu uma cidade bastante agradável.
Lá comemos um picadinho típico com uns noodles caseiros. Bebi uma cerveja escura  de trigo, enquanto Sandra apostou num tinto semi-seco (half trocken).











25/11 Ter - Füssen a Salzburg - 213 km
O dia amanheceu com uma forte cerração. Andamos por Füssen com esse aspecto fantasmagórico, tiramos algumas fotos e voltamos para o hotel.
Pegamos as nossas coisas e tomamos a estrada. Na saída, abastecemos o carro, tomando cuidado para colocar o combustível certo. A gasolina é identificada com alguns nomes comerciais, como Super ou Super E, o que pode gerar algumas confusões. No mesmo posto, compramos Vignete, um selo que é necessário para se rodar na Áustria. Como Füssem já fica quase na fronteira, foi possível comprar o selo ainda em solo alemão, o que facilitou um pouco a nossa vida. Tomamos uma série de estradas secundárias para, apenas muitos kilômetros depois, chegarmos a uma autoban e conseguirmos impor uma velocidade razoável no trajeto. Mesmo assim, chegamos a Salzburg no início da tarde.
Aproveitamos para visitar dois museus dedicados a Mozart. O museus ocupam respectivamente a casa onde o compositor nasceu e aquela onde ele viveu sua juventude. Há muitos objetos pessoais e instrumentos musicais usados por ele na sua vida em Salzburg.
Depois andamos pela cidade e encontramos uma animada feira de Natal, onde comemos uns pretzels com vinho quente.  As feiras de Natal são muito comuns na Alemanha, Áustria e Rep. Tcheca, e valem muito a pena, pois são animadas e com comidas típicas, saborosas e baratas.


26/11 Qua - Salzburg a Budapeste - 545 km
Saímos cedo de Salzburg e encaramos mais de 500 km em estradas duplicadas em ótimo estado. O primeiro trecho de mais de 300 km foi feito na Áustria. Na fronteira, paramos para comprar o e-vignete (ou manica) húngaro. A lógica é a mesma do vignete austríaco: você compra um selo que vale pelos pedágios. Se pegam você sem o selo, uma multa pesada é aplicada. Fizemos também o câmbio de dólares para florins húngaros. A Hungria está na União Européia e no espaço Schoengen, mas não na zona do Euro.
Chegamos a Budapeste no meio da tarde, perambulamos pelo centro em busca de um hotel e acabamos ficando no Ibis. Muita coisa na cidade parece decadente, inclusive os hotéis. Cremos que isso é uma herança da cortina de ferro. O contraste com os países da primeira etapa da nossa viagem - Holanda, Alemanha, Áustria - é gritante. No entanto, a parte histórica da cidade é linda. Aqui, o feio é feio e o belo, belo. Tudo bastante organizado.
Budapeste nasceu celta, depois foi romana, magiar e otomana. Nasceu capitalista, virou comunista e agora volta ao capitalismo. Isso é uma maravilhosa zona.
À noite, comemos uma coxa de ganso com repolho e tomamos um vinho tinto húngaro. Não sei dizer as características do vinho. As descrições dos vinhos húngaros são tão complexas quanto as alemãs.









27/11 Qui - Budapeste
Acordamos não muito cedo e, diante de um dia nebuloso, preferimos não ir para Buda, mas sim ficar em Peste. Visitamos a basílica de São Estevão, de interior muito belo e que guarda um tesouro bizarro: a mão direita do santo. Dali rumamos para o parlamento, onde há uma visita guiada bastante interessante. O parlamento húngaro foi construído considerando a Hungria histórica, que era bem maior do que atual, e, por isso, previa duas casas e um número maior de representantes. Hoje são pouco menos de 200 deputados para uma população de 10 milhões de habitantes (proporcionalmente, há bem mais representante do que aqui no Brasil).
Logo após, tentamos caminhar até a praça do heróis. Andar por Budapeste é gratificante, pois a cidade tem muitos prédios históricos portentosos. No entanto, acabamos concluindo que que a tal praça era muito longe e estava muito frio ( fez um grau negativo nesse dia). Por isso, nos aventuramos no metrô: velho e feio, mas funcional.  As escadas rolantes são incrivelmente aceleradas, e a fiscalização para verificar se você tem os bilhetes válidos é constante, portanto mantenha o seu até deixar a estação.  Essa fiscalização aconteceu em praticamente todas as estações de metrô por onde passamos.
Na praça dos Heróis existe um monumento, um castelo-museu histórico e um museu de arte. O visual da área verde é também bem interessante.
Depois, rumamos para a Sinagoga, que já foi uma das maiores da Europa. A perseguição aos judeus na Hungria durante a Segunda Guerra foi implacável. Na Sinagoga há fotos de pilhas de corpos que foram encontrados no interior do templo quando da "libertação" de Budapeste pelo Exército Vermelho. No local foi construído um cemitério onde esses corpos foram enterrados e, posteriormente, um memorial. Há ainda um museu judaico, com um acervo pequeno mas interessante, que versa tanto sobre a cultura judaica como sobre os sofrimentos desse grupo durante a guerra.

Andando a esmo pelas ruas, encontramos ainda um interessante memorial que criticava algumas tentativas de releituras do papel da Hungria na Segunda Guerra. A Hungria, embora ocupada, apoiou o nazismo. Isso ocorreu nos anos 30 e 40, mas ainda há uma memória coletiva sobre o assunto. No Brasil, muitos acreditam que a ditadura militar dos anos 60 e 70 ocorreu há séculos...





28/11 Sex - Budapeste
Acordamos com uma previsão de uma "garoa congelante". Saímos e descobrimos, de fato, uma chuvinha fina e um frio de doer os ossos.
Fomos a Buda. Tomamos o metrô, cruzamos a ponte a pé e depois tomamos o funicular, que nos elevou até o alto da colina. O tempo prejudicou um pouco a visão que se tem da cidade lá de cima. Mas, de resto, o passeio foi legal. Visitamos a bela igreja que existe em Buda. Depois fomos na Torre de Magdalena e andamos pelo labirinto de túneis escavados na rocha onde, dizem, o conde Drácula ficou encarcerado.  Sim, o verdadeiro, aquele que inspirou o filme Drácula de Bram Stoker. O lugar é um tanto claustrofóbico, e pensar que o verdadeiro Drácula vagou por ali dá um certo calafrio na espinha. Por fim, caminhamos pela cidadela.
À noite, fomos a um concerto de órgão, trumpete e voz, na Catedral de São Estêvão. Acabamos ficando craques nos deslocamentos com metrô em Budapeste.







29/11 Sab - Budapeste
Esse foi um dia dedicado aos esqueletos do regime comunista húngaro. Pela manhã, fomos ao Parque Zsorbor (Memento Park). Após a abertura, em 1991, foram levadas para esse parque todas as estátuas da época do regime comunista. Assim, o parque, que fica bem afastado do centro de Budapeste, é povoado por Lenins, camaradas húngaros desconhecidos, trabalhadores com armas e pelas botas de Stálin (esse o pessoal não aceitou deixar inteiro).
Dali, fomos par o Terror Museum, dedicado às atrocidades sofridas pelo povo húngaro após o início da Segunda Guerra. O museu é provavelmente o passeio mais legal que fizemos em toda a viagem. A história do fascismo na Hungria, surgido no final da guerra, logo dá espaço a 45 anos de ditadura comunista. As violências cometidas nesse regime - assassinatos, deportações, torturas - são narradas em detalhes vívidos.
À noite, aproveitamos o bom tempo para tirar umas fotos noturnas de Buda e do Parlamento, e andar pela cidade. Andamos muito e, contando com a jornada feita durante o dia, quase morremos de tanto andar!




30/11 Dom - Budapeste a Vienna - 246 km
Nosso plano original envolvia visitar a Cracóvia e de lá Auschwitz, mas acabamos mudando tudo por causa das condições climáticas. Para chegar à Polônia, precisaríamos cruzar os Cárpatos na Eslováquia, que sabidamente tem estradas que não são tão boas. Existia uma previsão de tempo desfavorável, com baixas temperaturas e possibilidade de neve. Acabamos ficando com medo e deixando o plano de visitar Auschwitz para uma outra oportunidade.
Em lugar da Polônia, fomos para Vienna. Nos hospedamos em um Ibis, na frente de uma linha de metrô. Compramos um passe de transporte público válido por 72 horas e usamos e abusamos do bem estruturado metrô de Vienna. Nesse dia, compramos umas bobagens - queijo, presunto serrano, pão, doces - em uma das várias feiras de Natal espalhadas pela cidade e fizemos um picnic no quarto do hotel.



01/12 Seg - Vienna
Visitamos a Catedral, com direito a um passeio pelas catacumbas e a uma subida na torre, apesar do mau tempo. Depois, fomos ao Mozarthaus - mais um! -, dessa fez, a casa onde o compositor viveu já na sua maturidade artística em Vienna.
Aproveitamos o que sobrou do dia para andar pelo centro histórico, que é polvilhado de palácios e outros prédios suntuosos.
Comemos em um café tradicionalíssimo. Entramos e pedimos o menu, ao que o garçon nos informou que não existia menu, mas se quiséssemos beber alguma coisa, poderia ser café, chá, cerveja, água ou refrigerante e se fosse pra comer, a única opção era o bratwurst. Foi o que pedimos e não nos arrependemos.  Ele trouxe a comida, mas não os talheres.  Quando a Sandra perguntou pelos talheres fomos informados de que não eram fornecidos, e que aquele prato se comia com as mãos.  Então tá, né?!  Comemos!
À noite, fomos às imediações do Rathaus, tirar umas fotos noturnas. Encontramos o lugar com uma bem decorada e animada feira natalina. Compramos umas bobagens e tiramos muitas fotos.





02/12 Ter - Vienna
Iniciamos o dia visitando o Schloss Schonbrun, onde viveu o Francisco José e a famosa e polêmica imperatriz Sissi. Esse passeio foi legal, mas teve um gosto semelhante a qualquer visita nesses palácios monárquicos: salas ricamente ornamentadas, de gosto duvidoso e com um ar meio cafona.
Dali, fomos para o Schloss Belvedere, que se revelou uma surpresa interessante. A área do Schloss engloba dois palácios, que foram convertidos em museus de arte. O primeiro continha a coleção permanente, com um acervo muito relevante de Klimt, mas também com alguns Renoir e um Van Gogh perdido. Além disso, existia uma coleção bem ampla de pintores austríacos (realistas e impressionistas). No intervalo, comemos o melhor bratwurst (salsicha) da viagem, acompanhada de uma cerveja de trigo que, de tão encorpada, quase poderia de comida com uma colher.
O segundo palácio abrigava uma coleção temporária que reunia um acervo de Monet simplesmente espetacular, comparável ao do Museu d'Orsay em Paris.
À noite, fomos ao Staatopera. Como era uma terça-feira, não tinha nenhuma ópera, mas sim a apresentação de uma solista, acompanhada de um harpista. A dupla era muito boa, mas o passeio não deu muito certo. Passei mal devido ao calor e acabamos saindo no intervalo. Acho que o que pegou foi um pouco de falta de hidratação (no frio não se sente muita vontade de beber água). Nada grave.



03/12 Qua - de Vienna a Praga -  291 km
Saímos não muito cedo do hotel e tomamos o caminho indicado pelo GPS, que previa a passagem pela cidade de Berno, na República Tcheca. Após alguns quilômetros, notamos várias placas indicando Praga em um sentido diferente e resolvemos segui-las. Após um bom trecho de estrada, nos deparamos com uma estrada em pista simples que cruzava várias pequenas cidades. Esse caminho a alternativa mais curta, mas trafegava por vias com velocidade bem mais reduzida que o caminho roteado pelo GPS, que privilegiava as highways.
Já perto da fronteira, entramos numa área onde aparentemente havia ocorrido uma geada muito forte na noite anterior. Vimos campos completamente congelados, num visual bastante curioso. Minha família é do Rio Grande do Sul, onde ocorrem geadas com frequência, branqueando os campos. Ali, no entanto, o fenômeno era mais intenso, congelando campos, árvores, carros e casas.
Na fronteira, compramos o Vignete Tcheco e fizemos câmbio para termos algumas Coroas Tchecas. Chamou a nossa atenção o grande número de bordeis na fronteira, já pelo lado Tcheco. Penso que as meninas estão ali com o objetivo de facilitar a integração europeia.
O caminho seguiu congelado, de forma cada vez mais intensa. Um bom tanto depois, entramos numa autoestrada, encontrando agora alguns trechos nevados. Chegamos a Praga no meio da tarde e rumamos para um Hotel da rede Best Western, que havíamos reservado na noite anterior.
Já após o anoitecer saímos para caminhar pela noite límpida e fria. Tiramos algumas fotos da Charles Bridge, uma ponte histórica bem animada, e depois fomos à Praça central, onde vimos o famoso e pitoresco relógio badalar as sete horas.





04/12 Qui - Praga
O dia amanheceu bonito e aproveitamos esse evento raro para explorar o setor do Castelo de Praga, que tem uma boa vista da cidade. Compramos um ticket integrado e visitamos as duas igrejas da região, o palácio e uma ruazinha medieval bem preservada. Subimos na torre de uma das igrejas, o que forneceu uma visão diferente da cidade, vista mais de cima ainda. Praga, diferentemente de outras cidades, é fotogênica quando observada do alto. Os telhados são predominantemente da cor de argila, o que gera uma curiosa harmonia visual.  Ainda no complexo do Castelo visitamos a Golden Lane, especialmente a casa de número 22, onde Kafka morou de 1916 a 1917 - um dos pontos mais populares do complexo.
Ao sair dali, fomos perambular pelo bairro judaico. Lá, visitamos o antigo cemitério dos judeus, que tem um aspecto único, com suas várias lápides agrupadas de forma desordenada.
Voltamos ao hotel completamente exaustos, mas recompensados. Praga é um lugar extraordinário.




05/12 Sex - Praga
Visitamos a igreja que abriga o Menino Jesus de Praga. Trata-se de um passeio para devotos, o que não é o nosso caso. Fomos desavisados, mas a igreja ficava a poucos passos do nosso hotel.
Depois, andamos até a praça central e subimos na torre do relógio para tirarmos umas fotos.
Iniciamos então uma jornada em busca dos outros indícios de Kafka pela cidade (além da casa na Golden Lane). Primeiro, encontramos a livraria que pertenceu ao seu pai, e que ainda existe. Depois, buscamos a casa onde ele nasceu, que tinha um museu, mas agora abriga apenas um café. A seguir, almoçamos no tradicional Café Louvre, que era frequentado pelo escritor.
À tarde, voltamos ao bairro judaico para uma visita ao memorial e à sinagoga. O memorial tem o nome de todos os judeus tchecos mortos na segunda guerra, o que provoca um impacto visual inusitado, quando nos deparamos com parede com milhares de nomes escritos em letra miúda. No entanto, o ponto alto do memorial são os desenhos de crianças judias na época do gueto de Praga (que na verdade ficava em uma cidade a sessenta quilômetros de Praga). Os desenhos são pungentes por apresentarem a visão inocente - ou, em alguns casos, nem tanto - de crianças submetidas a um inferno de incertezas e medo. Muitas pessoas choravam, durante a visitação.
Mais tarde, visitamos uma exposição com obras de Dalí e Andy Wharol. A exposição tem muitas litografias, mas também muito material único.




06/12 Sab - Praga
Tentamos visitar o novo cemitério judaico, onde Kafka está sepultado, mas demos com a cara na porta. Era sábado e o cemitério, justamente por ser judaico, não abre nesse dia. Fomos arrodeando o cemitério e descobrimos que a tumba da Kafka fica bem próxima de um portão. Tiramos umas fotos, mas não foi um passeio fotográfico completo (nós gostamos muito de cemitérios).
Então, passamos o dia de bobeira, compramos umas coisas, inclusive um fardamento completo para corrida no frio, com calça e camisa térmicas.
Incentivado pelas roupas novas, encarei uma corrida no início da noite, debaixo de uma garoa fina e uma temperatura de 2 graus. Foi uma boa corrida.





07/12 Dom - Praga a Dresden - 148 km
Fizemos o caminho de Praga a Dresden por estradas secundárias, passando por Karlov Vary (na Rep. Tcheca) e Zwickau (na Alemanha). A primeira parte do caminho foi bem agradável, com um visual muito bonito, composto de pequenos vilarejos e paisagens bucólicas. Já na Alemanha, havia muitas obras na pista, o que confundia o GPS, gerando muita perda de tempo. Quando inciou a cair a noite, roteamos diretamente para Dresden via uma Autoban e chegamos rapidamente na cidade.
Em Dresden, ficamos em um hotel bem central. A cidade estava tomada por feiras de Natal. Todas com muitas comidas e animação.







08/12 Seg - Dresden
O único dia livre que tivemos em Dresden foi uma segunda, o que impossibilitou a visitação aos museus. Fizemos um passeio a pé pela cidade, aproveitando o dia de sol. O centro histórico de Dresden é muito bonito e rende boas fotos. A cidade, que ficou muito destruída durante a Segunda Guerra, passou por um processo cuidadoso de restauração, e hoje é orgulho alemão, e símbolo da reconstrução do país.  De fato a cidade é linda mesmo, uma verdadeira joia!
Almoçamos perto do palácio. Pagamos caro, mas comemos bem e tomamos um excelente Riesling, que é uma das especialidades da região. Depois, visitamos as duas igrejas da cidade.
No final da tarde, ou seja, lá pelas 3h30, saímos para uma corridas na margem do Elba, com direito a pôr do sol sobre o rio e a cidade.
À noite, jantamos na feira de Natal perto do nosso hotel. Comemos um RostBratwurst, que é uma espécie de cachorro quente com uma salsicha gigantesca. Depois comemos um rol doce assado, que parece bem típico, Sandra comeu um Cristolen, que é um pão de frutas, e eu ainda tomei uma Erdinger. Tudo saiu por menos de 20 euros.












09/12 Ter - Dresden a Berlin - 286 km
Saímos relativamente cedo de Dresden e tomamos uma autoban. Fizemos uma primeira parada em Lubbenau, que é uma colônia suábia. Os suábios são um povo não germânico que vive em alguns pouco núcleos na Alemanha. Em Lubbenau, há uma vila bem preservada, com pitorescas casinhas. O lugar possui vários canais, onde no verão os alemães passeiam em barcos a remo, mas nada disso estava disponível nessa época do ano. Nem o museu suábio estava aberto. Tiramos uma fotos rumamos para Buckow.
Essa cidade é um point de veraneio e tem três lagos, acessíveis por pequenas trilhas. Precisamos almoçar por lá e, pela primeira vez, sentimos a necessidade de possuir alguns rudimentos de alemão. No restaurante, o garçon não falava inglês e o menu estava em alemão. Nos viramos por mímica e pedimos o único prato que conseguíamos, ainda que vagamente, imaginar do que se tratava (em um dos itens do cardápio constava a palavra risotti, rs).  Mas deu tudo certo!


Chegamos a Berlin já pela noite, deixamos as coisas no hotel que havíamos reservado no dia anterior e entregamos o carro na locadora.


10/12 Qua - Berlin
No primeiro dia em Berlin, caminhamos até o antigo ponto de passagem entre os lados oriental e ocidental, o chamado Checkpoint Charlie. Dali, fomos ao ponto onde anteriormente ficava o bunker onde Hitler se suicidou. O lugar foi totalmente destruído e, sobre a área, foi construído um estacionamento. Tudo para evitar que o lugar se transformasse em um ponto de peregrinação de neonazistas.
Depois, seguimos até o Portão de Brandenburgo e caminhamos pela Linden. A chuva apertou e acabamos entrando no Museu Histórico Alemão. Embora esse museu não fosse muito destacado no nosso guia de vigem, achamos a visita bastante elucidativa. Ali é recontada a história alemã desde a idade média até a reunificação. Ficamos quase o dia todo no museu.  Verdade é que achamos o museu excelente!

11/12 Qui - Berlin
Iniciamos o dia indo até a East Side Gallery, um trecho de 1300 m do muro que foi preservado e no qual foram feitos curiosos grafites retratando o período de divisão. No meio do passeio fomos surpreendidos por uma loira nua (na verdade vestida com um tapa sexo) que passeava por ali, coisa absolutamente normal.

Dali fomos para o Museu contíguo ao CheckPoint Charlie, que tem um acervo interessante, mas é terrivelmente confuso, com textos enormes e que não seguem nenhuma sequência lógica.
Almoçamos e fomos ao Topografie des Terrors, dedicado à Segunda Guerra Mundial. Esse museu apresenta documentos, fotos e vídeos da época e segue uma lógica linear, mostrando os fatos desde a ascensão de Hitler ao poder, até os primeiros anos do pós-guerra. É um museu aterrador, mas bastante interessante, e ajuda muito a entender melhor como foi a Alemanha no período nazista.





12/12 Sex - Berlin
Aproveitamos o dia para andar até o memorial ao judeus mortos na Segunda Guerra, que imita um cemitério e fica perto do Portão de Brandemburgo. Não nos demos conta de que debaixo desse lugar, no subsolo, há um museu que, segundo nos disseram depois, é muito interessante, apesar de remeter a momentos tristes - mas que fazem parte de uma visitação assim.  Bem, quando voltarmos a Berlin (sim, queremos voltar, Berlin vale muitas visitas) teremos que visitar o subsolo.
Depois caminhamos até a Alexander Platz. Acabamos passando um pouco da praça e encontrando um cemitério curiosamente incrustado em uma região central de Berlin. O lugar calmo contrasta com um caos urbano.
Aproveitamos para visitar a torre de TV, que parece ter sido um dos orgulhos da Alemanha Oriental. Saindo dali fomos à catedral e, depois, a uma Igreja que foi destruída na guerra e, propositalmente, não foi restaurada posteriormente.











13/12 Sab - Deslocamento aéreo de Berlin a Brasília
Voltamos também com um voo da TAP: Berlin-Lisboa-Brasília.


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