quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mendoza, Uspallata, Cafayate e Paso de San Francisco - 4.638 km


Vicuñas aos pés da cordilheira na Ruta 60


Nos últimos anos fizemos três grandes viagens pela Argentina (também pelo Chile), todas elas de carro e com grandes distâncias rodoviárias envolvidas. Todas estas viagens estão relatadas neste blog, em posts anteriores.


A primeira dessas viagens foi realizada em setembro e outubro de 2009 e cruzou a região norte da Argentina, de Missiones a Salta e Jujuy, entrando no Chile pela região de San Pedro de Atacama e voltando a Argentina por Mendoza. O relato completo está em http://errantesviajantes.blogspot.com.br/2013/01/brasilia-atacama-santiago.html






A segunda ocorreu em novembro de 2010 e consistiu em uma verdadeira epopeia pelo sul da Argentina. Saímos de Porto Alegre e chegamos a Ushuaia em um caminho pelo litoral. Voltamos grudados na cordilheira e passando pela Carretera Austral chilena em alguns trechos. O relato completo está em http://errantesviajantes.blogspot.com.br/2013/01/porto-alegre-ushuaia.html








A terceira viagem é a que está relatada neste post. Saímos de Mendoza para Cafayate e posteriormente a Cachí, cidades já na província de Salta. Depois nos aventuramos no Paso de San Francisco, em Catamarca.







Algumas pessoas nos perguntam: "afinal, por que logo a Argentina?" A resposta é algo complexa e passa pela beleza das paisagens(óbvio), pela identidade cultural que possuímos com a Argentina(quase óbvio) e pela, pasmem, simpatia do povo argentino(nem um pouco óbvia).

"... por força do meu destino, um tango argentino me pega muito mais que um blues..."
Belchior, em À palo seco.


A logística e o roteiro

Desta vez, diferentemente de outras, optamos por alugar um carro na Argentina. Passamos alguns dias fazendo trekkings no Cordon del Plata e logo a seguir pegamos um carro em Mendoza. O carro em questão era um Classic da GM novinho, o que não foi exatamente bom. Tratava-se de um carro baixo e nós teríamos preferido um carro mais velho e mais alto.
Sentimos muita falta de um carro 4x4. Teríamos sido mais felizes no nosso carro, como nas viagens anteriores, mas isso teria complicado muito a logística, sem falar que teria deixado tudo muito mais caro.
A ideia desta vez era simples: sair de Mendoza, inicialmente em direção a cordilheira e depois na direção norte, passando por alguns parques em La Rioja e seguindo a Cafayate. A volta incluiria um trecho da Ruta de los Seismiles, ou Ruta 60, que cruza a cordilheira em direção a Copiapó, no Chile. Ao todo isso daria algo perto de modestos 4.000km (pouco comparado às viagens anteriores, que ultrapassaram os 10.000km). O roteiro pode ser visto no GoogleMaps em http://goo.gl/maps/TXeqN



Diário de Viagem

02/01
Chegada a Mendoza (à noite).

03, 04, 05/01
Cordon del Plata
O Cordon del Plata é uma cadeia de montanhas da pré-cordilheira que tem o Cerro Plata, de 6000m como seu pico máximo.
Fomos para um refúgio de montanha, a 2800m para realizar aclimatação com o intento de subir o Cerro Franke, de aproximadamente 5000m. Para isso havíamos nos submetido previamente a um treinamento bastante pesado, que envolveu muita musculação e atividades aeróbicas. Creio que passamos uns 6 meses nesse processo.
Cerro Franke - Sempre encoberto nos dias em que estivemos por lá



Para nossa completa frustração, o tempo não ajudou e as montanhas se mantiveram com pesadas nuvens nos dias que estivemos no refúgio, o que tornava a ascensão desaconselhável.
Fizemos uns trekkings de altitude e umas ascensões a picos mais baixotes, o que foi frustante (não chegamos nem a 4000m) mas até certo ponto educativo. As montanhas nos Andes não são monolitos de pedra, mas sim um conjunto de pedras soltas que formam um terreno bastante instável. Você caminha sempre com as pedras se movendo sob os seus pés. No nosso último dia, um brasileiro que estava no nosso mesmo refúgio quebrou a perna ao descer do Cerro Stephanek, de 4200m. Por sorte, a guia que estava com ele acionou uma rede de montanhistas dos vários refúgios do Cordon que o resgatou. Se ele estivesse sozinho, a situação poderia ter se tornado muito grave.
Descida do Cerro Lomas Blancas (3850m) - Terrenos sempre instáveis na Cordilheira



Penso que a ocorrência deste acidente nos fez reavaliar a nossa frustração. Não desistimos do montanhismo, mas passamos acreditar que ele deve ser feito com muito conservadorismo. Acho que só por isso consideramos que a decisão da nossa guia de não subir o Franke com um prognóstico de mal tempo foi acertada.

06/01
Mendoza
Dia do nosso retorno do Cordon del Plata. Por pura sacanagem, o tempo estava ótimo e um grupo partiu para o Franke pela madrugada.
Chegamos a Mendoza por volta de meio dia e peregrinamos pelos hospitais de Mendoza em busca do nosso companheiro que havia fraturado a perna. Não tivemos sucesso nas nossas buscas.

07/01
Mendoza
No único dia integral que passamos em Mendoza, optamos por um passeio guiado a duas bodegas. Pagamos mais caro por um passeio um pouco fora do mainstream - o passeio "big mac" custava 100 pesos, o que escolhemos custou 100 dólares - que valeu cada centavo. Visitamos a bodega Renacer e a bodega Alta Vista, as duas na região de Lujan de Cuyo. Na bodega Renacer, houve uma degustação de Malbecs com terroirs distintos (um do Valle do Uco, mais alto, outro de Lujan e um terceiro de uma região bem mais baixa, a leste de Mendoza). Foi uma experiência didática, pois mostrou as pequenas sutilezas que os terrenos deixam nos vinhos e que, não obstante, fazem toda a diferença. No final, montamos nosso próprio Malbec, fazendo um assemblage com os três subtipos (ou para ser mais preciso um "corte de microclima").
Bodega Alta Vista - Recomendamos o Torrontès




08/01
Mendoza --> Uspallata
Visitamos o rapaz da pata quebrada em um hotel em Mendoza. Ele estava bem e nos contou detalhes do acidente, de seu resgate e se tratamento nos hospitais mendocinos. O acidente foi aquele tipo de coisa inevitável, um deslizamento normal nas pedras [sempre] soltas, um pé travado e uma fratura na tíbia.
Depois fomos para Uspallata. Achamos o hotel Los Condores, bom para o padrão rústico da cidade. No que restou da tarde pegamos uma estrada de rípio e fomos até os Caracoles de Villa Vicencio, um conjunto de curvas (reza a lenda que 365) em uma estrada de montanha com um visual exuberante.  Na volta, já bem perto de Uspallata, visitamos o Cerro Tundunqueral, onde há numerosas pinturas rupestres e petroglifos.
Visual das imediações de Uspallata




09/01
Uspallata --> Parque Provincial do Aconcágua --> Puente de Inca --> Uspallata
Fomos ao Parque do Aconcágua para fazer um trekking de um dia, que vai até o primeiro acampamento da trilha completa, que dura 15 dias e leva até o cume do Cerro (que é possível se você tiver um preparo físico fantástico e nenhum juízo). O visual do parque é muito legal e a trilha é fácil, mas sobe bem até uns 3500m. O visual do Aconcágua é melhor da entrada do parque do que do acampamento Confluencia até onde fomos. É possível avistar o glacial de los Polacos, uma gigantesca massa de neve empoleirada na montanha.
O Aconcágua



O parque tem um trekking de 7 dias que vai até o acampamento base, já a uns 4500m. Pensamos em realizá-lo assim que tenhamos uma oportunidade.
Na volta passamos por Puente del Inca, um lugarejo muito rústico que é a base para quem quer subir o Aconcágua.
Trilha para o acampamento Confluência



No retorno a Uspallata passamos pelo Cemitério do Andinista, que é devotado àqueles que morreram na tentativa de subir o Aconcágua. É um lugar interessante, que lembra que apesar de se chegar ao cume do Aconcágua caminhando, a aventura não se trata de um passeio no parque.
Cemitério do Andinista





10/01
Uspallata
Fizemos neste dia várias visitações nas imediações de Uspallata. Fomos às bóvedas, subimos em um mirador da cidade que imita uma via crucis, fomos até as ruínas de um Tambo Inca. Os Tambos eram lugares de descanso Incas. Existiam estradas que ligavam a região de Mendoza até Cuzco. Visitamos também o Cerro 7 colores (outro, pois já visitamos um homônimo em Purmamarca), que mais parece parte de uma quebrada do que um cerro, mas mesmo assim é bastante interessante.
Cerro Siete Colores




11/01
Uspallata --> San Agustin del Valle Fertil
Os argentinos inventaram algo interessante (ou apenas usaram um conceito inventado por outrém? Não sabemos na verdade).Trata-se do baden (plural badenes). O princípio é o seguinte: se é caro construir pontes, onde a estrada passa por cima do rio, vamos construir badenes onde a estrada passa por baixo do rio.
O baden é uma depressão pavimentada que permite que um rio, normalmente temporário, passe sobre a estrada. O recurso é barato, mas leva a algumas situações inusitadas. Se você tem um primo na cidade ao lado e vai tomar um café com ele em uma tarde ensolarada e, por desgraça, o tempo muda e chove, você corre o risco de não poder voltar para casa e ter que estender um colchonete na sala do seu primo e lá passar a noite. Em resumo, você tem uma estrada, mas não a tem sempre.
O resultado disso é que se dirige o tempo todo olhando para as nuvens e fazendo conjecturas mis sobre como elas se comportarão.
Dia de estradas tranquilas, mas muito, muito, muito quente. A desgraça do carro não tinha ar condicionado (pão-durismo castigado). Em Valle Fertil, alguns locais nos contaram que já foram registradas temperaturas superiores a 50 C.

12/01
San Agustin del Valle Fertil --> Parques Ischigualato e Talampaya
Saímos cedo para visitar o parque de Ischigualasto, que fica a uns 70 km de Valle Fertil, em uma ruta cheia de badenes. Havia chovido e o parque estava fechado. Tentamos o Talampaya, que ficava a mais 70 km de distância, mas nos deparamos com um baden cheio demais para passar na cidade de Baldecitos (nome muito sugestivo). Perdemos a manhã e uma parte da tarde nessa brincadeira de esperar (o baden esvaziar ou o parque abrir). Finalmente conseguimos chegar ao Talampaya. Visitamos o Cañon de Talampaya, um cânion bastante interessante. O rio formador do cânion é transitório, e o passeio é feito em uma van da concessionária do parque. Há muitas formações curiosas, mas o mais impressionante é estar em um cânion gigantesco em um rio que só fica cheio por algumas horas quando chove torrencialmente na região. O leito do rio abriga vegetação e fauna. Fora dali temos apenas a vegetação semidesértica da região.
Cânion Talampaya



Vegetação no interior do Cânion



Lebre - O cânion é uma espécie de oásis em meio a deserto da pré-cordilheira




13/01
San Agustín del Valle Fértil --> Cafayate 708 km
Era para ser um caminho tranquilo e rápido. Foi tranquilo, mas lento. Curiosamente se cruza um trecho de montanha que não é a cordilheira em Tafi del Valle. Chega-se a mais de 3000m em uma estrada cheia de curvas e que, neste dia, estava muito cheia (Tafi parece ser um balneário bastante frequentado ).
Em contrapartida, a estrada tinha um visual interessante quando iniciava-se a descida.

Cardón - Cactus gigante típico da região






14/01
Cafayate
Nos baseamos em Cafayate para fazer alguns passeios pelas redondezas. Primeiros fomos às ruínas de Quilmes, uns 50 km ao sul. Os quilmes foram um povo pré-colombiano conquistado primeiro pelo Incas e depois pelos espanhóis. As ruínas da cidade estão bem preservadas e ocupam a encosta de uma montanha. Acima e nas laterais foram construídas torres de observação que garantiam a segurança do local. Expulsos dali, os quilmes foram alocados nas proximidades de Buenos Aires, em um local com o mesmo nome. Deram também nome a uma cervejaria, provavelmente a marca mais popular na Argentina.
Este curioso pássaro faz se ninho no topo dos Cardones



A Cidadela de Quilmes



Ruínas e Cactus





Almoçamos humitas e tamales, que são derivados do milho com alguma semelhança às pamonhas brasileiras.
Humitas e Tamales





Depois fomos à bodega Etchart, para uma visita e degustação de vinhos. Cafayate produz o melhor Torrontes argentino, em vinhedos de altitude e com grande variação térmica (dia quente, noite fria), o que parece ser bom para produzir vinhos aromáticos. A região também produz tintos, em especial o Malbec, mas nesse caso perde em prestígio para a região de Mendoza.
Feito isso, fomos para o norte de Cafayate, na quebrada das Conchas (recebe este nome porque foram encontrada conchas e fósseis marinhos na região), ou quebrada de Cafayate. A parte mais interessante da quebrada se estende por uns 50 km em uma estrada pavimentada. Há formações rochosas interessantes, mas o que mais vale é o visual global do lugar.


Quebrada das Conchas






15/01
Cafayate -- > Cachi --> Cafayate


A decisão de ir a Cachi foi, sob vários aspectos, insana. Havia dois caminhos: um de 166 km pela ruta 40, quase todo de rípio, e outro pelo asfalto, de 270km em uma estrada cheia de curvas, badenes e desabamentos de rocha. Como o carro era alugado, optamos ir pelo asfalto, o que foi recompensador, já que a estrada era muito bonita. Cruzamos o Parque Nacional de los Cardones, que são os cactus gigantes, muito comuns na região.
Parque Nacional de Los Cardones



Demoramos 5 horas para chegar a Cachi (e outras 5 para voltar). Cruzamos alguns badenes cheios e com alguma correnteza, mas nada muito perigoso. A estrada chegava ao 3457manm.
Cachi é uma cidade pré-colombiana e bastante pitoresca. Penso que trânsito de carros no centro histórico da cidade prejudica muito o visual do lugar. Mesmo assim foi um passeio interessante.


Visual de Cachí




16/01
Cafayate --> Tinogasta
+- 451km (36 km de rípio, 2 rios para atravessar) - Ruta 40
Este foi provavelmente o dia mais apavorante, estressante e engraçado da nossa viagem. Saímos de Cafayate por volta das 10h da manhã, por assim dizer de "sangue doce", já que tratava-se de um trecho de 450km, com apenas 21 km de rípio.
Pegamos uma estrada inicialmente muito urbana, passamos por lugares muito pobres ao sul de Cafayate em um entra e sai de pequenos pueblitos com crianças, cães, bicicletas, cavalos e cabras pela pista, o que não permitia que a viagem rendesse. Passamos por alguns badenes cheios e o tempo chuvoso nos preocupava um pouco. Até aí tudo bem.
Após rodar quase 300km (essa ruta não tem caminhos alternativos), entramos no rípio (36 km e não 21 como pensávamos). Após alguns quilômetros nos deparamos com uma obra: a construção de uma ponte. O pessoal desviou a estrada para dentro do rio. Desci e verifiquei que a água batia quase nos meus joelhos e, pior, tinha uma correnteza significativa. Ficamos medrados com a situação, mas conversamos com um motociclista local que viajava com a esposa e também "estudava" o rio. Ele nos disse: "es tranquilo para el coche, pero para la moto es jodida". Ele passou a duras penas, quase foi levado pela correnteza. Vimos outro carro passar e comemorar a vitória. Fomos nós, deu tudo certo. O carro era alugado, mas felizmente os carros não falam.
Depois do rio, Sandra lembrou de perguntar: "hay otros?" "Creo que hay uno más.", respondeu o local. Avançamos preocupados. O segundo rio parecia até um pouco pior. Não fizemos muitas conjecturas, passamos. Já estávamos mais experientes.
Passado esse momento não tivemos mais problemas com rios ou badenes. Tomamos a ruta 60 perto de Aimogasta e subimos em direção a Fiambalá, nosso ponto de pernoite planejado. Achamos um pouco estranho o movimento na rodovia. Havia muitos carros, muitas caminhonetes 4x4 e muitas motos. Sabíamos que Fiambalá já havia recebido edições do Dakar e pensamos que a cidade havia se tornado um point de jipeiros. Quando chegamos, descobrimos que a etapa de Fiambalá do Dakar 2013 estava acontecendo naquele dia. Era totalmente impossível encontrar uma acomodação em Fiambalá. Mesmo os campings estavam completamente lotados.
Carro de apoio do Dakar no Paso de San Francisco



As cidades nesta região são relativamente afastadas umas das outras. Tinogasta fica a 50km de Fiambalá, Aimogasta a 113km de Tinogasta. Era final da tarde e sempre preferimos não viajar à noite. Saímos de Fiambalá para Tinogasta e conseguimos achar uma hosteria lá. Considerando a situação, a hosteria até que era bem boa.
Passado o stress, veio a recompensa. É bom estar em uma região onde ocorre um grande evento como o Dakar. À noite houve um show com artistas locais na praça central de Tinogasta. A cidade estava agitada e parecia um espaço cosmopolita e democrático, ainda que se tratasse de uma cidade pequena e desconhecida num fim de mundo argentino.
Fiambalá - Cidade tomada por jipeiros



Show na praça central de Tinogasta



Tinogasta fica na província de Catamarca. Não importa o quanto você tenha estudado o castelhano, em Catamarca ninguém o compreenderá. As pessoas falam em uma velocidade absurda, compactando as palavras de uma forma incompreensível. Além disso, é uma região da Argentina não muito habituada com turistas. Mas, com calma, tudo funciona se maiores problemas.

17/01
Tinogasta --> Paso de San Francisco --> Tinogasta (Ruta 60)
500 km
Recuperados do desgaste emocional do dia anterior, iniciamos nosso roteiro até o Paso de San Francisco pela manhã. O tempo em Tinogasta estava péssimo, com nuvens pesadas nas montanhas. Mesmo assim fomos, baseados na esperança de que a grande diferença de altitude entre Tinogasta e o Paso pudesse resultar em alterações climáticas drásticas. Foi o que aconteceu: nos primeiros 75km pegamos chuva, após esse trecho encontramos o sol e um tempo relativamente aberto. O Paso fica a quase 4800m e a esta altitude o tempo é extremamente instável. Como lá em cima havia sol, a temperatura ficou em uma faixa agradável, muito diferente das temperaturas abaixo de zero que pegamos no Paso de Jama, um pouco mais ao norte, alguns anos atrás.

Rebanho de Vicuñas brincando a 3500m de altitude


Exótica vegetação do Paso



O visual do Paso de San Francisco é interessante: muitas Vicuñas, paisagens desérticas, condores e várias montanhas acima de 6000m (o Paso é também chamado de Camino de los Seismiles).
Vulcão San Francisco com Lobo - a montanha tem mais de 6000m



Típica vegetação semi-desértica de altitude



Mais Vicuñas



Presenciamos uma cena inusitada, daquelas que exigem muita sorte: avistamos um grupo de condores pousados em uma campina já acima dos 3000m. Nos aproximamos para tirar umas fotos e os condores sairam em revoada. Perto dali, um burro que pastava tranquilamente ficou apavorado e inicinou a hurrar desesperadamente pela aproximação dos pássaros. O condor chega a medir 3m de envergadura. Dá pra entender a preocupação do burro.
Os Condores e o burro - note que os condores estão mais distantes que o burro, mas parecem maiores



O burro apavorado (nós também estaríamos


 
O Condor - Solo


 
Vicuñas invadem a pista


 


18/01
Tinogasta --> San Agustín del Valle Fertil
366km?
Visita ao Ischigualasto. Como havíamos tentado visitar o parque anteriromente, mas não havia sido possível por causa da chuva, tentamos novamente, dessa vez com sucesso. O parque apresenta de fato uma imagem lunar (o lugar é conhecido como Valle de la Luna na Argentina). Há formações rochosas curiosas, mas o mais interessante é o visual geral, amplo do vale, que remete a ideia de uma terra isolada e incomum.
Valle Pintado


Submarino


El hongo - símbolo do parque Ischigualasto


Os achados paleontológicos do parque são muito relevantes. Lá foi encontrado o dinossauro mais antigo de que se tem notícia. No museu do parque há uma réplica, bem como algumas ossadas. O dinossauro em questão era carnívoro e bem pequeno (media um metro, mais ou menos).

19/01
San Agustín del Valle Fertil --> Mendoza
408 km
Retorno a Mendoza. Estradas sem problemas e sem maiores dificuldades. Passamos a nos interessar pelos pequenos santuários que existem à beira das rodovias. Descobrimos que há vários santos locais na Argentina e que os ditos santuários em geral são devotados ao Gauchito Gil, especialmente os que apresentam fitas vermelhas, já que o Gauchito teria sido do partido Colorado e teria morrido devido a uma acusação injusta de deserção, ou a Difunta Correa, uma mãe que morreu no deserto perto de San Juan de sede e com o filho nos braços, que sobreviveu milagrosamente mamando nos seios da morta. Os fiéis depositam garrrafas de água nos santuários dedicados a Difunta.
El Gauchito Gil em santuário na beira de uma rodovia


É interessante verificar como países de tradição católica (Argentina, Brasil, Itália, Portugal) são abertos ao paganismo. Essa parece ser uma das [poucas] coisas boas que herdamos do catolicismo.

20/01
Retorno a Brasília.

Porto Alegre a Ushuaia - 12.177 Km


Este blog é o relato da viagem de carro pela patagônia Argentina e Chilena que fizemos em novembro de 2010, eu e minha esposa. Saímos de Porto Alegre tendo como destino final Ushuaia, com direito, é claro, a paradas pelos lugares interessantes da região: Puerto Madryn, Torres del Paine, Calafate e a quase mítica Carretera Austral chilena.

Uma viagem como essa só é agradável quando se considera a própria estrada como um atrativo turístico, caso contrário seria muito mais racional tomar um avião. De fato, conhecemos algumas estradas que por si só valem o passeio. É tudo isso que pretendemos contar aqui.



Números
Distância percorrida: 12.177 km
Cruces de Frontera: 10
Países: 3 (Uruguai, Argentina e Chile)
Fotos: 1.800
Dias de viagem: 25



A ideia
A ideia morava nas nossas cabeças há tempo. Faltava um pouco de coragem ou companhia. Já havíamos feitos várias viagens longas de carro, inclusive uma pelo norte da Argentina e Chile, que está relatada em http://brasilia-atacama-santiago.blogspot.com/ . O problema é que imaginávamos que uma viagem pelo sul da Argentina seria muito arriscada para um casal (estradas muito desertas, poucos pontos de apoio, etc).

Um amigo surgiu com a ideia de viagem pelo sul da Argentina que ele desejava fazer com o seu grupo de motociclistas (ver o site deles em http://www.motoexpedicao.com.br/ ). Nos candidatamos a fazer a viagem com eles como carro de apoio e nos empolgamos. O grupo porém acabou mudando o seu plano de viagem em função da disponibilidade de tempo do pessoal. Eles acabaram fazendo a viagem em vans alugadas em Ushuaia. Como já havíamos planejado a viagem de carro, resolvemos seguir com o plano original. Apenas eu e minha esposa.
Curiosamente, acabamos por concluir que a maior parte dos nossos medos não se sustentava. Argentina e Chile são países bem mais seguros do que o Brasil. A violência urbana na Argentina concentra-se basicamente nas imediações de Buenos Aires. Também não tivemos problemas logísticos: as estradas não eram tão desoladas quanto imaginávamos e havia postos de gasolina nas principais cidades. Pessoalmente achamos a dificuldade logística maior na nossa viagem pelo nororeste da Argentina no ano anterior (novamente, ver http://brasilia-atacama-santiago.blogspot.com/ ). É importante que fique claro, porém, que não estamos afirmando que no sul da Argentina há um posto de gasolina em cada esquina e nem tampouco que é fácil administrar qualquer problema mecânico que ocorra.

Glaciar Perito Moreno - El Calafate - Argentina



O plano

Vivemos em Brasília, mas julgamos que sair de carro de Brasília acrescentaria inutilmente 4.000 km à viagem (2 na ida e 2 na volta). Por isso, enviamos o carro a Porto Alegre e fomos de avião. O transporte do carro foi feito pela Fath ( http://www.fath.com.br/ ), que fez um bom trabalho (os prazos foram cumpridos e o carro chegou ileso no destino) tanto na ida quanto na volta. De Porto Alegre, depois de uma breve pernoite em Pelotas, onde mora a minha família, rumaríamos para Colonia de Sacramento, no Uruguai, e cruzaríamos para Buenos Aires de balsa (BuqueBus). A partir daí pegaríamos a Ruta 3, que desce pelo litoral argentino até Ushuaia. O retorno se daria pela Ruta 40 argentina, junto à cordilheira e pela Carretera Austral chilena. O retorno seria a partir de Bariloche, cruzando a Argentina na diagonal até o Uruguai e de lá para Pelotas e Porto Alegre.


Tomamos todos os cuidados possíveis para minimizar os eventuais riscos da viagem: extendemos o seguro do carro para toda a América do Sul, contratamos seguros de viagem, nos vacinamos contra as gripes (normal e H1N1). Além disso, viajamos com todos os itens exigidos pela legislação de trânsito dos países por onde passaríamos, levamos um bom guia de viagem do Chile e outro da Argentina ( http://www.planetanews.com/autor/ZIZO%20ASNIS ), mapas das regiões por onde passaríamos e um GPS carregado com os mapas do Proyecto Mapear ( http://www.proyectomapear.com.ar/ ).



Requisitos legais para trafegar na Argentina e no Chile

Argentina:

- Documento do veículo (deve estar no nome do condutor e não deve estar alienado ou será necessária uma autorização da instituição financeira para a qual o carro está alienado);

- Carteira de habilitação do condutor;

- Carta Verde;

- Dois triângulos;

- Um cambão (cabo ou haste para rebocar outro carro);

- Uma caixa de primeiros socorros (um modelo aderente a legislação pode ser comprado em qualquer farmácia na Argentina).

Chile:

- Documento do veículo (deve estar no nome do condutor e não deve estar alienado ou será necessária uma autorização da instituição financeira para a qual o carro está alienado);

- Carteira de habilitação internacional do condutor (segundo no disse um carabineiro do Chile, a carteira de habilitação brasileira basta, não sendo necessária a internacional);

- Dois triângulos.



Os obstáculos

Essa viagem se caracterizou por uma série de elementos mais ou menos constantes que precisaram ser administrados. Cremos que os mais importante foram:

- o vento, que exigia muitos cuidados. Era muito fácil perder o controle do carro. A solução contudo era simples: maneirar na velocidade. Estradas de rípio

- o rípio, ou seja uma pedrinhas redondas que os argentinos e chilenos adoram jogar sobre as estradas de terra. O rípio mantém as estradas transitáveis, não há atoleiros, mas tirando isso ele apresenta muitos problemas. O carro responde mais à inércia do que aos controles do motorista. É preciso evitar manobras bruscas e para isso a solução é, novamente, maneirar na velocidade.

- estradas monótonas, não todas, mas algumas, em especial a Ruta 3 (maior parte) e a alguns trechos da Ruta 40.



Diário de viagem



SEX 12.11

Deslocamento por via aérea até Porto Alegre.



SAB 13.11

De Porto Alegre a Pelotas - 256 Km

Retirada do carro do carro. A já citada Fath entregou o carro direitinho.



DOM 14.11

Pelotas a Colonia de Sacramento (Uruguai) - 785 Km

Esse foi o primeiro dia de viagem propriamente dito. Tínhamos dois caminhos que implicaríam praticamente as mesmas distância: por Chuí ou por Jaguarão. Optamos pelo Chuí, caminho que já conhecíamos.

Apesar do GPS, fizemos a bobagem de entrar em Montevideo. Como resultado nos perdemos. O GPS no geral é excelente, mas alguns problemas que podem ocorrer mesmo com ótimos aparelhos (e mapas) são: o GPS pode levar você a locais que são (ou parecem ser) meio barra pesada - justamente o que ocorreu em Montevideo; outra coisa é que o sentido das vias pode ser alterado em algumas cidades e não atualizado a tempo no mapa (isso ocorreu em outras cidade porém, por sorte, cidades pequenas).

Colonia de Sacramento é uma cidade bastante interessante. Trata-se de uma das únicas (se não a única) cidade uruguaia com colonização portuguesa. Já conhecíamos Colonia e, por isso, passamos só a noite.



SEG 15.11

Colonia de Sacramento a Bahia Blanca (Argentina) - 636 km

Passagem de Colonia para Buenos Aires pelo Buquebus. Pegamos o Buque das 5h da manhã. A travessia foi de três horas. Já em Buenos Aires fizemos câmbio para conseguirmos uns pesos argentinos e seguimos viagem. O trânsito na região portuária de Buenos Aires é um pouco traumático, mas com a ajuda do GPS tomamos a Ruta 3 rumo a Bahia Blanca.



TER 16.11

Bahia Blanca a Puerto Madryn - 714 km

Chegamos a Puerto Madryn pela Ruta 3. Após Bahia Blanca essa ruta é bastante tranquila, ficando um pouco mais movimentada nas imediações de Puerto Madryn.



QUA 17.11

Puerto Madryn

Os hotéis estavam cheios, mas ainda assim conseguimos nos hospedar em um hotel bom e com ótima localização, o Playa Hotel.

No dia em chegamos fizemos um passeio pela cidade, que é bonita, agradável e com bons restaurantes e cafés. Fomos até Punta Lomo, onde se pode observar aves e leões marinhos. O passeio valeu mais pelo visual, já que os animais só podim ser vistos à distância. Por sorte levamos um binóculo

Puerto Madryn é a porta de acesso à península de Valdés, uma reserva de fauna marinha com direito a baleias, orcas, pinguins, leões marinhos e outras espécies de focas, além de guanacos - um bicho que seria uma constante nessa viagem - e aves, muitas aves.

O passeio de barco para avistar as baleias é bastante interessante. O restante da península pode ser percorrido de carro em umas estradas de rípio safadas. Pena que não se possa descer do carro em qualquer ponto das estradas, só nos locais autorizados administrados pelo parque. Esse foi um ponto negativo. O restante da fauna marinha fica sempre um pouco distante do observador, o que pode resultar um pouco frustrante para os desavisados. O visual do lugar, no entanto, é bastante impressionante. Seriam belas praias se não fosse tão frio.

Baleia Franca
Filhote de baleia franca: são raros os de cor clara

Leão Marinho na Peninsula de Valdés

Em Puerto Madryn comemos um tal "Cordero patagónico", que é um cordeiro cozido em fogo lento com batatas doces. Creio que há muitos diferentes pratos com a alcunha de "Cordero patagônico"...


Coçando



QUI 18.11

Puerto Madryn a Gaiman - 81 km

Nesse dia visitamos Punta Tombo. Trata-se de uma reserva de pinguins absolutamente impressionante (dizem que é a maior reserva de pinguins fora da Antártida). Diferentemente da península de Valdés, aqui se vê os animais de perto. Embora o turista ande por trilhas demarcadas e não possa invadir a área dos pinguins, os pinguins podem invadir a área dos turistas e o fazem constantemente. O resultado é que algumas vezes é necessário parar para dar passagem ao "pinguinos". Há apenas uma espécie de pinguim em Punta Tombo: o pinguim magalhânico. Trata-se da mesma espécie encontrada na região de Ushuaia. Chegamos numa época do ano muito boa, onde alguns pinguins ainda estavam chocando os ovos, enquanto outros já estavam com seus filhotes. Punta Tombo parece oferecer, de acordo com a época do ano, um panorama das diversas fases do ciclo evolutivos dos ponguins: a construção do ninhos, o acasalamento, a postura dos ovos, o nascimento dos filhotes e, por fim, o desenvolvimento dos mesmos.


Pinguin Magalhânico com "Pichon"

Depois de Punta Tombo rumamos para Gaiman onde tomamos um "chá galês" no Ty Gwyn, com direito à famosa (e deliciosa) torta galesa. Gaiman é uma cidadezinha de colonização galesa e ar meio bucólico. Não tínhamos informação de hotéis em Gaiman, mas descobrimos que a própria casa de chá era também uma pousada, por sinal bastante agradável - e com um café da manhã delicioso!




Pinguins em Punta Tombo: cada buraco, um ninho


Descendo a ladeira


Gritando


SEX 19.11

De Gaiman ate Comodoro Rivadavia - 397 km

Dia no qual encontramos um dos nossos grandes companheiros de viagem: o vento. Chegamos a Comodoro numa sexta-feira que antecedia a um "fin de semana largo" (feriadão) no qual ocorreriam umas "carreras" (corridas automobilísticas). Como resultado a cidade estava cheia e conseguimos apenas um hotel mais ou menos (seguro e limpo) numa vizinhança não muito ortodoxa (contei quatro bordéis nas imediações). Depois concluímos que poderíamos ter dormido em Rada Tily, um improvável balneário (!!!!) uns 10 km adiante. Nossa impressão de Comodoro foi péssima, mas a parada foi necessária. Não conseguiríamos alcançar Rio Gallegos em apenas um dia e o trecho de Rio Gallegos a Ushuaia deve ser preferencialmente feito em um dia devido a dificuldade de estadia, estradas de rípio e fronteiras.



SAB 20.11

De Comodoro Rivadavia a Rio Gallegos - 776 km

Dia de vento, muito vento...

Em Puerto San Julian, o carro, parado no posto, balançava. Passamos por uns motociclistas que se equilibravam a muito custo sobre as motos. Em Rio Gallegos encontramos um hotel bom e barato, mas o vento era tamanho que mal botamos os pés para fora. Jantamos no hotel.



DOM 21.11

Rio Gallegos (Argentina) até Ushuaia (Argentina) - 594 km

Saímos bem cedo do hotel, antes mesmo do café da manhã. O dia tinha tudo para ser uma epopéia. Não se chega a Ushuaia sem passar pelo Chile e ainda há estradas de rípio e uma travessia de barco. Primeiro rodamos uns 60km e chegamos a fronteira com o Chile, depois rumamos para Manantiales, onde atravessamos o estreito de Magalhães (na travessia Manantiales-Punta Delgada tem barco de hora em hora), a partir daí tomamos uma estrada de rípio de 100km e, a seguir, cruzamos a fronteira novamente, voltando para a Argentina. A partir desse ponto segue-se por mais uns 290km até Ushuaia. Os últimos 100km cruzam a Cordilheira dos Andes com belas imagens numa estrada na encosta das montanhas com muitas curvas e, pasmem, bastante movimentada.


Rebanho de Guanacos na Terra do Fogo Chilena



SEG 22.11, TER 23.11, QUA 24.11

Ushuaia


Não tínhamos grandes expectativas com relação a Ushuaia, mas nos impressionamos com a beleza imagem da cidade com a cordilheira ao fundo, com as casas pitorescas e com os atrativos do Canal de Beagle. O parque da Terra do Fogo é outro passeio interessante. Encontramos um bom hotel na primeira tentativa. Ficamos num apart hotel vinculado ao Hotel Austral. Era um apartamento amplo e pagamos um pouco mais caro que o padrão das nossas estadias.

Fizemos o passeio básico pelo Canal de Beagle no primeiro dia, à tarde. Esse passeio vale principalmente pela visão que se tem de Ushuaia do mar. O tempo em Ushuaia muda drasticamente de um minuto para outro, e por isso o passeio de barco deve ser priorizado. Nosso passeio começou com uma tarde linda e agradável mas, quando estávamos retornando, pegamos uma viração de tempo que fez nosso barco balançar muito. Curiosidade: o comandante do nosso barco tinha dupla nacionalidade, brasileira e argentina. Viveu em Santa Rosa (RS) até os 11 anos, e falava portugês perfeitamente.

Pela manhã desse mesmo dia havíamos feito a visita guiada ao museu do presídio, que é imperdível, não só pelas histórias e curiosidades do presídio em si, mas também para que se conheça como nasceu Ushuaia. No início, todas as atividades econômicas em Ushuaia, inclusive os trabalhos de urbanização e de infraestrutura, giravam em torno da existência do presídio.

O passeio pelo Parque Nacional de la Tierra del Fuego explora mais as paisagens da região. Há trilhas no parque, fizemos alguns trechos, mas ao final achamos que o visual do parque é mais ou menos constante: lagos e picos nevados, bosques de pinheiros e alguma fauna nativa. Há também a fauna não nativa, ou seja, aquela introduzida pelo homem e que atualmente representam um problema para a região. É o caso dos castores e dos coelhos europeus, por exemplo, que não deram certo economicamente e que não possuem predadores naturais. Os castores têm destruído os bosques da região.


Parque Nacional da Terra do Fogo

Cormorões na Isla de los pajaros no Canal de Beagle


Leões Marinhos no Canal de Beagle


Ushuaia vista do Canal de Beagle

Porto de Ushuaia




QUI 25.11

De Ushuaia a Puerto Natales (Chile) - 685km

O percurso embora não seja dos maiores exige uma passagem de fronteira, 100km de rípio e a travessia do estreito de Magalhães. Comemos um sanduíche de chorizo com palta muito bom na estrada, embora a palta tenha desagradado um pouco a Sandra. A alimentação da Argentina/Chile exige algumas traduções: palta é abacate; chorizo é um bife (normalmente de contra-filé); lomo é um bife (normalmente de filé)...



SEX 26.11

Torres del Paine

O Parque Nacional Torres del Paine, próximo de Puerto Nateles, foi provavelemnte o lugar mais legal que visitamos em toda a viagem. O maciço do Paine é um conjunto de montanhas destacado da Cordilheira dos Andes e que teve uma evolução independente. Há dois caminhos que ligam Puerto Natales ao parque. Tomamos um caminho alternativo de rípio. Esse caminho nos forçou naturalmente a cruzar o parque para chegar ao início da trilha que vai à base das Torres del Paine, um conjunto de montanhas que dá nome ao parque. A trilha era caminhada de 4h e aproximadamente 10 km subindo encostas mais ou menos íngremes. Ao final havia um trecho pedregoso muito íngreme. Ao logo de trajeto existiam pontos de apoio que eram também áreas de camping. Curiosamente, o número de turistas latinos (argentinos e mesmo brasileiros) era extremamente reduzido. Em compensação, pululavam turistas europeus e americanos. O visual do final da trilha é fantástico e compensador.


Maciço do Paine


Pato selvagem com patinhos no lago Pehoé


Ponto intermediário na trilha das Torres



Trecho de mata na trilha


Torres que dão nome ao parque


Descemos e fomos em busca de um hotel dentro do parque, sabendo que isso não seria exatamente barato. Encontramos o hotel Pehoé, na beira do lago com o mesmo nome, com direito a vista para o maciço do Paine (em especial para os Cuernos), tudo isso por módicos US$ 215. Foi a estadia mais cara de toda a viagem, mas valeu cada centavo (ver foto ao lado).



SAB 27.11

Puerto Natales (Chile) a El Calafate (Argentina) – 268Km

Ampliamos um pouco a nossa estada no Torres del Paine e tomamos a estrada para Calafate só no meio da tarde. Durante a manhã visitamos uma prainha que dá acesso a um glacial que existe dentro do parque. A visitação ao glacial dependia de um passeio de barco de várias horas ou de uma trilha de vários dias. Como veríamos glaciais robustos em Calafate, decidimos não investir nosso tempo nesses passeios e apenas andar pela prainha, o que foi um acerto: a praia fica tomada por icebergs e pedaços de gelo, formando um visual interessante.


Icebergs resultantes do degelo do Glaciar Grey

Tivemos que comprar a gasolina mais cara da viagem no parque: aproximadamente R$ 6 por litro, mas plenamente justificável, já que não há um posto de gasolina, mas uma pousada que armazena o combustível em temerários galões de 5 litros. No resto do tempo que tivemos atravessamos o parque de um extremo a outro. Vimos muitos guanacos, aves em geral e alguns ñandus. Depois cruzamos para a Argentina e Villa Cerro Castillo e seguimos para Calafate.

Ñandu com ñanduzinho nos arredores do parque


DOM 28.11
El Calafate
Em Calafate achamos um hotel ótimo e com preços muitos bons, o Don Quijote. Em Calafate parece que tudo oscila em torno do Glaciar Perito Moreno. Você pode ver o Glacial de terra, ver o Glacial de barco, andar sobre o Glacial etc. Visitamos o Glacial por terra e fizemos um passeio de barco que vai até bem perto do glacial, mas sempre mantendo uma distância segura, pois volta e meia despencam pedaços de gelo gigantescos que fazem um estrondo enorme e balançam a embarcação. Para se ter uma ideia, o glacial tem uma altura que pode variar de 40m a 60m! O Glacial é, de fato, impressionante, mas o fato é que tivemos um pouco de azar por aqueles lados. O tempo na região do glacial estava muito ruim, chovia quase todo o tempo e ventava muito. Pensamos em fazer o passeio até o Glaciar Upsala, que exigia uma navegação mais ou menos longa, mas a previsão do tempo impossibilitava o passeio. Por isso acabamos abreviando um pouco a nossa estada por lá.

Desmoronamento de um bloco de gelo no Glaciar Perito Moreno

Fissuras do Glacial


SEG 29.11
El Calafate a Estância La Angostura(imediações de Gobernador Gregores) - 334 km
Nesse dia iniciamos um longo trecho pela Ruta 40. Essa estrada vai do norte ao sul da Argentina, sempre costeando a cordilheira e passa perto de muitos lugares interessantes (Jujuy, San Antonio de los Cobres, Mendoza, Bariloche, Esquel, El Calafate, El Chalten etc). Há um claro movimento na Argentina no sentido de transformar essa estrada numa atração turística em si mesma, mais ou menos como parece ocorrer com a Route 66 americana.
Isso tudo parece ótimo mas a verdade é que pegamos um trecho complicado da Ruta 40: quase 600 km de rípio, poucos pontos de apoio e uma certa monotonia de cenário (apesar disso tivemos a sorte de ver alguns animais). Como dirigir 600km no rípio é algo bastante desgastante para um único dia, resolvemos buscar um ponto de parada no meio do caminho. Havia apenas uma cidade de 8000 habitantes no trecho com algumas opções de hospedagem e algumas estâncias que forneciam serviços turísticos. Trocamos e-mails com a secretaria de turismo da província de Santa Cruz e descobrimos a Estância La Angostura (http://www.estancialaangostura.com.ar/).
A hospedagem lá custava por volta de US$100 e mais US$ 25 por refeição. Ficamos numa agradável habitação individual com banheiro e fora da casa da família. A comida era muito boa e tivemos a oportunidade de experimentar um jamón (presunto) de guanaco A experiência de ficar uma noite numa estância no meio da Patagônia a vários quilômetros de qualquer outra presença humana foi ímpar. A estância possuía uma fauna silvestre muito rica em aves.

À noite no jantar conhecemos uma sueca, bird watcher, que viajava pedindo carnona e dormindo numa barraca. Impressionou-nos o desprendimento da mulher. Ela nos contou que a tal estância era muito procurada por observadores de pássaros e que na região vive um pássaro específico que só pode ser visto naquelas bandas.


Estância La Angostura


TER 30.11
Estância La Angostura a Chile Chico (Chile) - 404 km
Dia de deslocamentos sobre o rípio da Ruta 40. Ao chegar a Los Antiguos, ainda na Argentina, avistamos o Lago Buenos Aires(ou lago General Carrera para os chilenos). Como o lago é muito grande e venta muito, as ondas formadas dão a impressão que se está diante de um braço de mar (ver foto ao lado).
Na passagem de fronteira para o Chile quase tivemos problemas com uma lata de doce de leite comprada em Ushuaia. O Chile possui sérias restrições quanto ao ingresso de produtos agropecuários no seu território. Em Chile Chico ficamos no Hotel Ventura, bastante simples, mas limpo e com um dono simpaticíssimo, o Luiz.


QUA 01.12
Chile Chico ate Coiahique - 336 km
Em Chile Chico iniciamos a outra estrada épica da viagem: a Carretera Austral. A cidade é pequena, simpática e fica na borda do Lago General Carrera, que possui um visual fantástico. Embora o lago no lado argentino tenha águas revoltas, no lado chileno prevalecem as águas plácidas e azuis. Demos a volta no lago, o que nos consumiu boa parte do dia.

Lago General Carrera

A Carretera Austral é uma estrada pitoresca: toda de rípio, por encostas de montanha e com pouquíssimo movimento. Vez ou outra é necessário descer do carro para espantar as ovelhas ou o gado que invade a pista. Pegamos neve na estrada apesar da época do ano. As cidades da Carretera são pequenas e o legal é exatamente dormir nas cidades pequenas. Apesar disso, dormimos uma noite em Coiahique que é uma megalópole da região: tem 50.000 habitantes.

Lago General Carrera



QUI 02.12

Coiahique até Futaleufú - 363 km

Seguimos pela Carretera, passando pelo Parque Queulat. A estrada passa pelo meio do parque, que tem uma vegetação abundante, uma estrada cheia de curvas e com pouco movimento. Dormimos em Futa, uma cidade pequeninha e simpática, além de ser um centro de rafting de alguma importância. Encontramos umas cabanas boas, simples, limpas, agradáveis e baratas, muito baratas na verdade. Achamos também um restaurante fantástico por lá chamado Martim Pescador. Comemos um salmão, que é muito popular na região, visto que há muitos criadouros desse peixe em cativeiro. O mesmo ocorre com a truta.

Típica cidade da região da Carretera


Rio na região da Carretera



SEX 03.12

De Futaleufú até Bariloche - 352 km

Futaleufú já fica na fronteira. Cruzamos para a Argentina e tomamos novamente a Ruta 40 até Bariloche, passando por Esquel. A estrada nesse trecho não é das mais atrativas, tornando-se interessante apenas na chegada a Bariloche.

Chegamos a Bariloche exigentes. Não era qualquer cena de montanha que nos impressionava. Não esperávamos muito de Bariloche, pois sabíamos que estávamos fora de temporada. De fato, nessa época do ano já é relativamente quente por lá. Só há neve nas montanhas mais altas, mas a compensação é o colorido da primavera. Bariloche é uma cidade onde o turismo é explorado de forma muito intensa e por vezes destrutuiva. Apesar disso, a região é muito bonita. Conta-se também com muitos cafés, restaurantes e chocolatarias legais. O restaurante giratório no alto do cerro Otto é uma ótima pedida, e dá para apreciar 360º de uma vista fantástica enquanto se faz a refeição.

Ficamos hospedados no hotel Nevada, que tem uma localização bem central, conta com ótimos quartos, ótimos serviços e um café da manhã muito bom. O preço é compatível com a qualidade, ou seja, alto, mas pagando em dinheiro pode-se obter um bom desconto.



SAB 04.12, DOM 05.12

San Carlos de Bariloche

Fizemos um passeio a Villa La Angostura e San Martin de los Andes. Cidades menores e mais agradáveis que Bariloche, de modo que ficar hospedado em uma delas teria sido uma opção um pouco mais "autêntica" do que a estadia em Bariloche. Mas a verdade é que nossa viagem até então já tinha apresentado um alto grau de autenticidade e, de certa forma, queríamos um pouco do caos de uma metrópole turística. O chamado passeio dos sete lagos tem um visual bacana. É um passeio de um dia inteiro. No segundo dia fizemos o chamado circuito chico, de meio dia, com um visual muito legal.

Ponto panorâmico no Circuito Chico


SEG 06.12
Bariloche a Santa Rosa - 958 km
Iniciamos a "volta" propriamente dita. Esse é um momento de exercício de paciência e calma. Passamos pelas províncias de Rio Negro, Neuquén e La Pampa. Estradas vazias e tranquilas. Vimos a transição da vegetação patagônica para a pampeana. Muito gado e eventuais trigais. Em Santa Rosa achamos um hotel bem na mão: na estrada e próximo à cidade.


TER 08.12
Santa Rosa a Colón (Argentina) - 845 km
Novo dia de deslocamento, mas dessa vez entre as províncias de La Pampa, Buenos Aires e Entre Ríos. Estradas movimentadas. Fomos provavelmente achacados pela polícia Caminera da província de Entre Rios. Digo provavelmente por que oficialmente fomos multados, com direito a recibo assinado e tudo mais. Depois descobri que esse é o modus operandi dos camineros da argentina. Não tivemos muito como discutir: a infração realmente existiu: estávamos com o farol apagado. Na Argentina é obrigatório trafegar com os faróis acesos mesmo durante o dia. Como no Brasil andar com os faróis apagados durante o dia não é infração, de vez em quando esquecíamos de "encender los faros".
Colón é um balneário na beira do Rio Uruguay. A cidade tem um certo clima de cidade de praia e é agradável para se passar uma noite.


QUA 08.12
Colón (Argentina) a Pelotas (Brasil) - 688 km
Cruzamos a fronteira com o Uruguai e fomos para Paisandú. De lá tivemos um dia de viagem até Rio Branco, já na fronteira com o Brasil, onde chegamos por volta das 15h. Paramos lá para umas comprinhas: vinhos, licores e muitos, muitos perfumes (ah, os preços estavam realmente muito bons!). Nossa ideia inicial era dormirmos em Rio Branco, mas como acabamos as compras cedo, achamos melhor tocar direto para Pelotas. Ali ficamos uns três dias com a minha família. A viagem acabou formalmente em Porto Alegre, totalizando os ditos 12.177km.


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